quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Imagine Sô Louro

O meu avô, quando jovem e ainda morava na roça, deu de cara com o diabo em pessoa. Enfrentou o Tinhoso com bravura, olho no olho, rezando as "doze palavras retornadas". E venceu! E contava essa passagem pra todos os seus netos, sempre que possível. E contava com orgulho! Afinal de contas, quem sai vivo de uma batalha dessas pra contar a história? poucos.
Quando era pequeno, queria um daqueles gravadores de brinquedo. Aqueles vermelhos com microfone embutido, sabe? Eu queria escrever um livro sobre a história de vovô, contada por ele próprio.
Aí a gente cresce. esquece dos desejos de pequeno. Acha que a vida deve ser feita só de grandes histórias, grandes coisas, grandes conquistas. Grandes brinquedos. Grandes amores. Grandes empregos. Grandes ambições.
Mas o que pode ser maior do que enfrentar o diabo em pessoa? O que pode ser maior que sentar perto daqueles pés calejados e cheios de terra da horta e ouvir como foi esse emblemático duelo?
Nada.
Hoje sou jornalista. Ainda não tenho meu gravador, mas sou jornalista. Cadê o meu velho avô sentando na porta da casinha me chamando pra me narrar sua odisseia?
O tempo não me deu tempo.
Ou, talvez, eu tenha esperado demais.
Meu avô tinha pressa. E se o Tinhoso quisesse vingança? E se o Fedido passou a vida toda à espreita, esperando o momento certo da revanche? Meu avô tinha pressa...
Se heróis de guerra não tem tempo para esperar um gravador vermelho com microfone embutido, imagine os super-heróis.
Imagine o Sô Louro.

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