quarta-feira, 3 de julho de 2013

Games

de frente pra você, eu sou cara. eu tenho opinião, eu sei o que dizer, o mestre do coração! faça o que eu te mandar fazer. mas, de frente pra você, eu sou coroa. te espero sentado, soberano em meu trono, com o coração culpado e a covardia de um rei. "- sem ele você consegue viver!" "- mas, sem ti, o que poderei fazer?" cara e coroa. mesma pessoa. todo mundo é doutor e dor no jogo do amor.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Hoje eu ganhei o Biju do professor Edmundo. É um lindo de um Shar Pei.
Se a gente se casar, ele vai morar com a gente.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

13 de janeiro de 2013

Querido amigo,
Resolvi te escrever esse acontecimento só hoje, apesar dele ter acontecido há alguns dias. Mais precisamente, foi no dia 1º de janeiro, o primeiro dia do ano. Eu estava em Curvelo. Era tarde já, quando descobri que receberíamos visita. Celina, tia Lena (a mãe da Celina), minha prima Angélica e seu marido, o Daniel. Eles dormiram na casa da minha tia Lica (irmã de tia Lena e de papai) e resolveram passar lá em casa. Claro que fiquei muito nervoso, sempre fico quando descubro que vou receber visitas. Na verdade, tenho muito medo de ser anfitrião de qualquer coisa nessa vida, porque ser anfitrião é uma responsabilidade enorme, não é mesmo? Ver todos felizes, dar atenção a todos os convidados, fazer todos participarem ao mesmo tempo da mesma conversa... É muito difícil! Principalmente pra mim, que quase não converso.
Mas eles chegaram. Levantei do sofá e abracei cada um. Tia Lena, como de costume, foi a mais carinhosa. Ela demora mais ou menos uns dois minutos pra me abraçar, me dar a sua bênção e me dizer um monte de coisa boa que você nem imagina! Gosto muito da tia Lena! Na verdade, eu amo a tia Lena. E, justamente por isso, nunca sei como me comportar na frente dela, fico muito sem graça. O Daniel eu não conhecia, mas ele me conhecia. Achei isso fantástico! “Então você é o famoso Rafael Soal, dono dos posts mais legais do Facebook!” Fiquei até vermelho quando ele disse isso, mas não posso negar que gostei. É muito bom ouvir isso da coisa que você mais gosta de fazer na vida. Sinal de que estou no caminho certo, talvez.
Todo mundo se sentou na sala: mamãe, papai, minha irmã Letícia, Celina, Angélica, Daniel, tia Lena, meu cachorro Cauã e meu jabuti Slow. Eu estava conseguindo controlar minha ansiedade muito bem, até que a Lorena me chama no WhatsApp. Ela e eu estamos vivendo um momento difícil. Estamos presos ao nosso último relacionamento, mesmo sabendo que, provavelmente, tudo já tenha morrido faz tempo. Mas nós dois ainda amamos nossos ex-. E isso é tão difícil...
O fato é que ela me chamou no WhatsApp pra me mostrar uma resposta de um professor nosso da faculdade. Eu a encorajei a perguntar pra ele o que ele achava do relacionamento falido dela. Sempre gostei muito das opiniões e observações do Edmundo. Ele é tido como louco por todo mundo, mas sabe quando é uma loucura com uma grande verdade escondida? Pois é. E Lorena criou coragem e perguntou a ele. Disse que tinha mandando por e-mail a resposta pra eu ler. Abri imediatamente a caixa de entrada e lá estava. Comecei a ler e, no começo, nada de anormal. É o que eu sempre dizia a ela e a mim mesmo, mas... santo de casa nunca fez milagre. Mas a terceira parte da resposta do Edmundo me incomodou demais. Vou reproduzir aqui pra você entender do que estou falando:
3. Preservar-se, não fazendo coisas das quais vamos nos arrepender em breve. Fora isso, meu avô dizia que, quando a gente tem um problema, é preciso avaliar se ele vai durar mais ou menos de 6 meses. Se durar mais, pode se preocupar. Se durar menos, esqueça imediatamente. Na verdade, a maioria dos problemas que "arrumamos" não duram muito tempo. Uma semana e você nem se lembra mais da coisa.
Espero ter ajudado. Beijoca.
Pra falar a verdade, eu fiquei muito mal depois que terminei de ler. Porque o que eu e Lorena sofríamos era amor. E como a gente pode colocar o amor dentro da estante de “problemas”? Amor deveria solução, não problema. É bom sentir amor, mesmo que ele venha com uma dosezinha de dor. E o que me doeu também foi que meu namoro já tinha acabado há uns oito ou nove meses, já. E eu demorei muito pra sentir a dor e a falta que a Anne me faz. Pela lógica do professor Edmundo, já tinham se passado os seis meses. Meu sentimento, então, não era qualquer coisa. Era uma coisa a se preocupar, e bastante! Será que deveria criar coragem e escrever pra Anne dizendo que eu ainda a amo? Ou continuar em silêncio até tudo isso passar? Eu sempre achei que não tenho o direito de escrever nada pra ela. O relacionamento acabou por bobagens que eu mesmo criei sozinho. Ela não tem culpa de nada. O idiota fui eu, apenas eu. E aí eu lembrei que eu não pude escrever “Feliz Natal!” pra ela e nem “Feliz Ano Novo!”, apesar de ter sido a coisa que eu mais quis escrever no fim de ano. Mas a culpa era toda minha por não poder escrever. E isso me doía demais, me angustiava. Eu me senti uma pessoa muito ruim, um verdadeiro monstro.
Pensei tudo isso sentado na porta da sala e com todo mundo a minha volta. Eu emudeci imediatamente e meus olhos começaram a marejar. Nem tive coragem de responder pra Lorena o que eu pensava, porque se eu respondesse tinha certeza que ia começar a chorar. Então fiquei ali o tempo todo engolindo choro e tentando rir da melhor maneira possível pra ninguém perceber.
Depois de uns 20 minutos, mamãe chamou todo mundo pra sala de jantar para beliscarem alguma coisa. Eu fiquei no meu lugar, quieto, esperando todos se levantarem. Quando todos já estavam a caminho, tia Lena tomou a direção inversa e veio até mim. Me olhou com uma serenidade gigante e disse:
- Seus olhos estão brilhando já tem um tempinho...
- Não é nada, tia, tá tudo bem. É que eu tive um probleminha no olho em novembro, mas já tá quase ficando bom.
Foi quando tia Lena ergueu os dois braços, passou-os por trás do meu cabelo e me puxou pra perto dela. Me abraçou bem forte contra seu peito e disse:
- Eu só quero que você saiba que você é uma pessoa muito boa, que você é um menino muito especial e que eu te amo muito! – me soltou, sorriu contente e foi em direção à sala de jantar.
Você não faz ideia da força que eu fiz pra não chorar no colo da tia Lena. Poxa vida, como foi difícil! Inacreditável como em apenas uma frase ela conseguiu dizer de todo meu sofrimento. É como se ela tivesse lido meus pensamentos!
Depois dessa emoção toda, eu me lembrei de uma frase do livro que eu estava lendo na época (e que sempre paro, porque ele me emociona muito): “As Vantagens de Ser Invisível”.
- Ele é invisível.
- Você vê as coisas. Você guarda silêncio sobre elas. E você compreende.
E fiquei olhando tia Lena da porta da sala. Eu estava numa sala com tanta gente! Papai não percebeu nada, mamãe não percebeu nada. Nem Letícia, nem Celina. Tampouco Angélica e Daniel. Cauã e Slow são animais, não tinham como perceber. Mas tia Lena percebeu. Sentadinha no seu canto, caladinha, ela foi capaz de perceber que alguma coisa tinha acontecido comigo a ponto de fazer meus olhos “brilharem”. Eu sempre me achei “invisível”. Sempre achei. Mas achava estranho porque não conseguia enxergar de quem eu tinha puxado esse jeito matuto. Naquele momento, mesmo triste por ter me lembrado da Anne, eu me senti menos sozinho. Afinal, minha família tinha mais um membro invisível: a tia Lena! Então eu sorri por dentro.
Como deve ser calmo e sábio o mundo enxergado pelos nossos parentes com 70 ou 80 e poucos anos, não é mesmo? Como eles devem viver em paz, sem tantas preocupações arrebatadoras, sem tantos hormônios à flor da pele, sem tanta ansiedade... Pensando bem, meu amigo, eu devia ter perguntado pra tia Lena se eu devo ou não escrever pra Anne. Ela com certeza teria uma resposta doce e muito serena pra me dar.
Como é bom ser mais velho! Aproveito pra te confessar que esse é um dos meus grandes sonhos. Ficar mais velho! Deve ser tão bom... Desde os 18 anos eu sonho com isso. Ai, ai... Mal posso esperar pelos meus 30.
Com amor,
Rafael

domingo, 18 de novembro de 2012

21/02/2012, 9 meses atrás

Acordei péssimo. Péssimo!
Não tinha ninguém em casa, mas a porta da frente estava aberta. Meu olho (ainda) embaçado foi logo tirando o cigarro de palha do maço, acendendo no fogão. Meus pés foram para a porta.
E logo entre a porta aberta e o início do primeiro degrau da escada, estava um papel dobrado. Dobrado em quatro partes. Olhei esnobe, traguei a fumaça e o peguei com a mão esquerda. Dentro, no último dobrar, estava escrito isso aqui:
http://instagram.com/p/SLZOAYuLJN/
O que isso aí fazia na porta aberta de uma casa onde não tinha ninguém, não faço ideia. Só sei que fui eu que escrevi. Num longínquo fevereiro. Exatamente um dia depois de terminar nosso namoro.
Meu misticismo forte tem quase certeza que o acaso (ou como queira chamar) está me enviando recados. Um após o outro.
Eu? Ainda não entendi nenhum deles.
Amanhã, a gente - ou só eu - faz um ano. Um ano.
Um ano.
Certo de que fiz as escolhas erradas em todos os setores da vida, despeço-me.
Com amor,

sábado, 27 de outubro de 2012

Acerto de contas

"se nós dois não fôssemos tão dramáticos e românticos, nos daríamos muito bem."
(eu curti) "que droga, viu."
"c'est la vie."
(eu curti) "é. bom... pelo menos a gente se dá bem." (ela curtiu)

sábado, 29 de setembro de 2012

Canção pra só a gente entender (ou 23h23)

Sonho acordado
Com a gente sentado
Na mesa do café.
Tudo parado
Eu olho pro lado,
Como quem nada quer
E, um tanto desconfiado,
Seguro sua mão apertado,
Contando com a sorte e com a fé
De você sorrir de bom grado,
Abrir seus dedos tão bem moldados
e me dar o calor que tiver.
Promessas surdas num corredor calado,
"- Vai ser pra sempre!", mas o fim é decretado
No primeiro ruído de pé.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Olimpíadas de Flerte (Trecho 1)

Modalidade: flerte no ônibus com dois MP3 player diferentes
Ainda lembro do dia em que ela me contou que, na viagem de ônibus da faculdade para casa, teve um flerte - daqueles de cinema! - com um cara de trajes hippies. Para tudo ser mais lindo e incrível, os dois estavam ouvindo MP3 player e cantarolando os mesmos versos de uma mesma música.
Reflitam.
A mesma música estava tocando em dois MP3 player diferentes ao mesmo tempo! Obra mestra do cupido. Ápice do acaso. Nada menos que um amor pra vida toda.
Mais pasmo fiquei quando, dias depois, ela conta que o viu de novo no mesmo ônibus.
"- E então? Conversaram? Trocaram telefones? Saíram de mãos dadas dividindo o mesmo fone de ouvido?"
"- Não, não. Meu MP3 tava descarregado. E, sabe... ele nem era tão grande coisa assim."

sábado, 18 de agosto de 2012

A mulher que não sabia dizer "- Eu te amo."

Ele não respeitou sua intuição e deixou a porta da rádio aberta. Mesmo com o vestígio do que estava por vir ter acontecido há poucos minutos antes, na sala do café. Ele tinha esperança em tudo na vida, principalmente em que coisas terríveis nunca haveriam de acontecer. Era sexta-feira, ela devia ter alguma coisa mais importante pra fazer, não perderia seu precioso tempo parando na sua frente e apontando a metralhadora no seu rosto. Mas era sexta-feira, dia em que não se tem nada a perder. Faltava uma hora para o fim do expediente, então não se tinha absolutamente nada a perder.
E é claro que ela entrou.
Ele tinha com ela uma história tão complexa quanto à forma de definir seu carinho pela mesma. Suas expressões apontavam lá pelos 60 e poucos anos. Sempre séria. Sempre mórbida. Implacável. Os corredores da empresa eram lotados de burburinhos sobre seu “jeitinho” ímpar de ser. Jogando por baixo, as bruxas das histórias infantis teriam inveja de tais lendas. É jornalista, já foi chefe. Invejável currículo.
O destino dos dois se cruzou quando ele ainda tomava remédios. Ou se entupia deles. Um garoto entupido de remédios e de medo recebeu certo dia a notícia que ela, justo ela, seria sua nova chefe por quatro meses. E por quatro meses ela lhe comprou almoço quando precisava trabalhar até tarde, contou suas histórias de superação (ela também, um dia, já se entupiu de remédios), aconselhou a ele uma terapia regressiva, reclamou bastante quando o serviço atrasava, o deixou dormir bem na sua frente enquanto conversavam – uma das consequências das medicações. E, assim, os quatro meses se passaram rápido e ele se descobriu mais forte. Mais resistente, mais rápido, mais vivo. Como pode uma pessoa cercada de lendas tão estranhas ser capaz de tornar o seu semelhante mais forte? E mais! Sem nenhuma palavra de carinho? Sem nenhum “- Eu te amo.”?
Como ela nunca foi casada, tendo dotes tão lindos para cuidar do outro?
O próximo encontro emblemático dos dois se deu quatro anos depois. Inevitavelmente, ele abraçou a mesma profissão de sua outrora chefe. Eram colegas de serviço e de canudo, agora. Mais uma vez ela entrara na rádio para lhe dizer palavras de incentivo e sucesso. Falou por quase uma hora. E foi letal. Ele percebeu que alguma coisa havia mudado em seu discurso. Não era um discurso para um menino que se entupia de remédios. Era um discurso para um homem. Para um filho que estava deixando o lar. Duríssimo de ouvir, mas verdadeiro e sincero. A frase final daquela conversa ainda ecoa nos seus momentos de solidão: “- Sabe qual é o seu verdadeiro problema? Você tem medo de ser feliz.” Mas ele estava mais forte, afinal, quatro anos é um bocado de bagagem. Soube absorver os golpes e aproveita-los da melhor forma possível. A faculdade havia lhe ensinado preciosas lições sobre “emissor” e “receptor”. Ele enxergou amor em tudo aquilo. Mesmo sem ouvir o tal “- Eu te amo”.
E agora, oito meses depois, ele sabia que estava para começar mais um discurso. E sabia que ia ser pesado. Pesado como nunca fora antes. Ele estava com medo, passava por um período de fragilidade única. Estava completamente desarmado de coragem e força de vontade. Lembrou-se do filme do Batman que assistiu recentemente e só teve tempo para suplicar aos céus que não saísse tão avariado como seu herói das telas. Mas foi impossível.
O discurso não era mais desejando sucesso, e sim sobre o que estava fazendo para alcançá-lo. Por que não escrevia uma matéria jornalística? Por que não fazia um concurso público para sua área? Por que não dava a cara pra bater na iniciativa privada? Por que não saía de frente do computador? Por que não otimizava seu tempo procurando informações que o fizessem crescer ao invés de procurar o último lançamento de sua banda favorita? Por que não se mexia? Queria passar a vida inteira operando uma mesa de som? Foi pra isso que correu atrás de um diploma? Por que não tinha ambição? Por que não tinha uma vida?
Por quê? Por quê? Por quê?
No começo, ele tentou desesperadamente se esquivar dos golpes. Lutou bravamente com o pouco de força que lhe sobrava no corpo. Mas aos poucos foi se rendendo. Ele não tinha resposta para nenhuma daquelas perguntas, não sabia o que dizer, não conseguia ainda encarar de frente sua antiga mestra. Abaixou a cabeça e deixou que lhe golpeasse. Uma, duas, três, quatro. Cinco vezes. Veio uma vontade forte de chorar, mas não daria aquele desprazer para quem só lhe ensinou a ser forte. Como se não bastasse, assim como no filme do Batman, ela o agarrou pelas costas e o ergueu para cima.
“- Quando eu soube que você estava entrando para a faculdade de jornalismo, eu disse que não era o seu perfil. Você não tem perfil nenhum pra ser jornalista.”
E quebrou-lhe a coluna. Ao meio. E depois saiu.
Ficou sem ar. Foi ao banheiro, lavou o rosto, acendeu um cigarro no jardim. Esperou ansiosamente as 17h. Chegou em casa com muita dificuldade. Estava gravemente ferido, e a ciência, por mais avançada que fosse avançada, não tinha curativos para aquelas feridas. Feridas internas. Feridas na alma.
Refugiou-se no único cômodo do barracão abaixo da sua casa e ficou ali por horas. Sentia uma raiva e um ódio mortal subindo-lhe as veias. Raiva dela e ódio dele mesmo. Ele sabia que ela estava certa, e isso era muito pior do que toda a surra que levou. Pensou em vingança, em mostrar do que era capaz. Pensou em desistir de tudo e voltar pra sua terra. Mas, por fim, pensou somente nela. E nas coisas boas que ela o passou em todos esses anos. E em como os dois, bem no fundo, eram até parecidos.
Ela não sabia dizer “- Eu te amo.”. Nunca soube. Cada um tem sua história e deve haver um por que. O fato é que ela, por muitas vezes, tentou dizer isso a ele da sua forma. Como ela achava certo. Ou, talvez, como fizeram com ela um dia.
Levantou-se e foi dormir, mesmo com aquelas dores horríveis. Algumas delas, tinha certeza, não iam curar nunca. Seria pra sempre manco e repleto de cicatrizes.
Ela lhe apareceu em sonho naquela mesma noite. Voltou a conversar com ele como na primeira vez, com a voz doce e zelosa da chefe que conversava com o menino entupido de remédios. Ele estava deitado em uma maca. Ela sentou-se na cadeira ao lado e encarou-o com seriedade.
“- É por isso que eu nunca casei. Agora você entende? Eu escolhi viver sozinha. É muito difícil ouvir verdades.”
"- E dizer verdades... é fácil?"
Ela sorriu compreensiva, no cantinho da boca. Mas foi o suficiente pra ele entender.
Fácil é dizer “- Eu te amo.”

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Imagine Sô Louro

O meu avô, quando jovem e ainda morava na roça, deu de cara com o diabo em pessoa. Enfrentou o Tinhoso com bravura, olho no olho, rezando as "doze palavras retornadas". E venceu! E contava essa passagem pra todos os seus netos, sempre que possível. E contava com orgulho! Afinal de contas, quem sai vivo de uma batalha dessas pra contar a história? poucos.
Quando era pequeno, queria um daqueles gravadores de brinquedo. Aqueles vermelhos com microfone embutido, sabe? Eu queria escrever um livro sobre a história de vovô, contada por ele próprio.
Aí a gente cresce. esquece dos desejos de pequeno. Acha que a vida deve ser feita só de grandes histórias, grandes coisas, grandes conquistas. Grandes brinquedos. Grandes amores. Grandes empregos. Grandes ambições.
Mas o que pode ser maior do que enfrentar o diabo em pessoa? O que pode ser maior que sentar perto daqueles pés calejados e cheios de terra da horta e ouvir como foi esse emblemático duelo?
Nada.
Hoje sou jornalista. Ainda não tenho meu gravador, mas sou jornalista. Cadê o meu velho avô sentando na porta da casinha me chamando pra me narrar sua odisseia?
O tempo não me deu tempo.
Ou, talvez, eu tenha esperado demais.
Meu avô tinha pressa. E se o Tinhoso quisesse vingança? E se o Fedido passou a vida toda à espreita, esperando o momento certo da revanche? Meu avô tinha pressa...
Se heróis de guerra não tem tempo para esperar um gravador vermelho com microfone embutido, imagine os super-heróis.
Imagine o Sô Louro.

domingo, 29 de julho de 2012

Sobre Bodas de Seda

Bom... por onde começar...
Eu conheço a Ana Cristina desde 2005. Ela era estagiária da Emater quando eu entrei na Ascom. Estava terminando o curso de jornalismo quando eu ainda nem sabia o que eu queria da vida. Na verdade, ainda não sei. Mas hoje eu tenho um diploma igualzinho ao dela. Coisas da vida.
A Ana Cristina sempre foi uma moça muito viçosa. Loira, olhos verdes (ou seriam azuis?), pele branca a ponto de ver as veias pulsando. Mais baixa que eu e com um sorriso farto e encantador. Mas não, ela nunca foi um dos meus amores platônicos, apesar dessas muitas qualidades. A gente sempre foi amigo – ou pelo menos assim eu a considero até hoje e para sempre. Na época da Ascom, sempre nos juntávamos aos outros estagiários pra tomar uma cerveja num barzinho depois do expediente. Até fizemos uma loucura dentro daquela empresa. Não posso contar ainda porque, ao contrário da Ana Cristina, eu ainda dependo do salário de lá. Mas ainda chegará esse dia.
O fato é que Ana Cristina se casou hoje. E eu não fui convidado. E não tem nada de errado nisso.
Depois que ela partiu da Emater, como eu faço com uma naturalidade incrível, criei um abismo entre nós. Por mais que os estagiários daquela época cumprissem mensalmente o juramento de jamais se afastarem um do outro, eu me desertei do bando. Como um búfalo doente querendo não atrapalhar a viagem da boiada. Ou, se preferir, como um covarde. Tenho meus motivos, embora todos sejam muito ridículos. A última vez que a vi foi no Reveillon de 2011, dentro da casa dela. Depois, nem mais uma palavra entre nós. O tempo – com minha maravilhosa ajuda – soterrou nossas belas lembranças e eu passei a ocupar, talvez, um lugar bem fundo e escuro do seu baú de memórias. Já no meu, ela ocupa lugar de destaque: lembro-me como se fosse agora o dia em que, enquanto fazíamos o clipping na sala de jornais, ela me disse que eu me vestia e portava como um artista. Impossível não amar a Ana Cristina.
O fato é que Ana Cristina se casou hoje. E eu não fui convidado. E não tem nada errado nisso. Mas eu queria muito ter ido.
Não só para desejar felicidades aos noivos (esqueci de mencionar que o sortudo é a cara do Paul McCartney nos seus tempos áureos), mas para saber como é um casamento. Sempre quis saber se essa cerimônia é capaz de me emocionar a ponto de eu chorar na igreja e querer de vez mudar de vida.
Na pior das expectativas, eu voltaria a usar um terno novamente – só usei uma vez na vida, na formatura de uma ex-namorada. Eu conheceria gente nova. Eu admiraria sorrisos. Eu colheria felicidade. Eu presenciaria um rito importantíssimo na escala de amadurecimento de um ser humano (e, quem sabe, sair de lá mais “adulto”, não sei...). Eu me empanturraria de salgadinhos e doces. Eu encheria a cara e tiraria a gravata para pendurá-la na cabeça. Eu dançaria valsa e, depois, música eletrônica. Eu apareceria no álbum de fotografias dos noivos e, num futuro desses, os seus netinhos perguntassem quem era aquele cabeludo esquisito.
Ah, sim... Na melhor das expectativas, eu a veria novamente. E ela me veria de terno, todo imponente. E pediria desculpas por todos os erros que cometi. E ficaria conversando com ela sobre tudo que aconteceu nesses meses em que ficamos ausente um dos outro. E, talvez, ela pegasse o buquê e, imediatamente, trocasse um olhar comigo. E voltaríamos bêbados e cantarolando para casa, gritando aos quatro ventos como a noite tinha sido ótima.
E, numa (quase) impossível expectativa, o próximo noivo seria eu.
Tolices...
O fato mesmo é que a Ana Cristina se casou hoje. E eu não fui convidado. E não tem nada de errado nisso. Mas eu queria muito ter ido.
Mas eu queria muito ter ido.