domingo, 29 de julho de 2012

Sobre Bodas de Seda

Bom... por onde começar...
Eu conheço a Ana Cristina desde 2005. Ela era estagiária da Emater quando eu entrei na Ascom. Estava terminando o curso de jornalismo quando eu ainda nem sabia o que eu queria da vida. Na verdade, ainda não sei. Mas hoje eu tenho um diploma igualzinho ao dela. Coisas da vida.
A Ana Cristina sempre foi uma moça muito viçosa. Loira, olhos verdes (ou seriam azuis?), pele branca a ponto de ver as veias pulsando. Mais baixa que eu e com um sorriso farto e encantador. Mas não, ela nunca foi um dos meus amores platônicos, apesar dessas muitas qualidades. A gente sempre foi amigo – ou pelo menos assim eu a considero até hoje e para sempre. Na época da Ascom, sempre nos juntávamos aos outros estagiários pra tomar uma cerveja num barzinho depois do expediente. Até fizemos uma loucura dentro daquela empresa. Não posso contar ainda porque, ao contrário da Ana Cristina, eu ainda dependo do salário de lá. Mas ainda chegará esse dia.
O fato é que Ana Cristina se casou hoje. E eu não fui convidado. E não tem nada de errado nisso.
Depois que ela partiu da Emater, como eu faço com uma naturalidade incrível, criei um abismo entre nós. Por mais que os estagiários daquela época cumprissem mensalmente o juramento de jamais se afastarem um do outro, eu me desertei do bando. Como um búfalo doente querendo não atrapalhar a viagem da boiada. Ou, se preferir, como um covarde. Tenho meus motivos, embora todos sejam muito ridículos. A última vez que a vi foi no Reveillon de 2011, dentro da casa dela. Depois, nem mais uma palavra entre nós. O tempo – com minha maravilhosa ajuda – soterrou nossas belas lembranças e eu passei a ocupar, talvez, um lugar bem fundo e escuro do seu baú de memórias. Já no meu, ela ocupa lugar de destaque: lembro-me como se fosse agora o dia em que, enquanto fazíamos o clipping na sala de jornais, ela me disse que eu me vestia e portava como um artista. Impossível não amar a Ana Cristina.
O fato é que Ana Cristina se casou hoje. E eu não fui convidado. E não tem nada errado nisso. Mas eu queria muito ter ido.
Não só para desejar felicidades aos noivos (esqueci de mencionar que o sortudo é a cara do Paul McCartney nos seus tempos áureos), mas para saber como é um casamento. Sempre quis saber se essa cerimônia é capaz de me emocionar a ponto de eu chorar na igreja e querer de vez mudar de vida.
Na pior das expectativas, eu voltaria a usar um terno novamente – só usei uma vez na vida, na formatura de uma ex-namorada. Eu conheceria gente nova. Eu admiraria sorrisos. Eu colheria felicidade. Eu presenciaria um rito importantíssimo na escala de amadurecimento de um ser humano (e, quem sabe, sair de lá mais “adulto”, não sei...). Eu me empanturraria de salgadinhos e doces. Eu encheria a cara e tiraria a gravata para pendurá-la na cabeça. Eu dançaria valsa e, depois, música eletrônica. Eu apareceria no álbum de fotografias dos noivos e, num futuro desses, os seus netinhos perguntassem quem era aquele cabeludo esquisito.
Ah, sim... Na melhor das expectativas, eu a veria novamente. E ela me veria de terno, todo imponente. E pediria desculpas por todos os erros que cometi. E ficaria conversando com ela sobre tudo que aconteceu nesses meses em que ficamos ausente um dos outro. E, talvez, ela pegasse o buquê e, imediatamente, trocasse um olhar comigo. E voltaríamos bêbados e cantarolando para casa, gritando aos quatro ventos como a noite tinha sido ótima.
E, numa (quase) impossível expectativa, o próximo noivo seria eu.
Tolices...
O fato mesmo é que a Ana Cristina se casou hoje. E eu não fui convidado. E não tem nada de errado nisso. Mas eu queria muito ter ido.
Mas eu queria muito ter ido.

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