segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

13 de janeiro de 2013

Querido amigo,
Resolvi te escrever esse acontecimento só hoje, apesar dele ter acontecido há alguns dias. Mais precisamente, foi no dia 1º de janeiro, o primeiro dia do ano. Eu estava em Curvelo. Era tarde já, quando descobri que receberíamos visita. Celina, tia Lena (a mãe da Celina), minha prima Angélica e seu marido, o Daniel. Eles dormiram na casa da minha tia Lica (irmã de tia Lena e de papai) e resolveram passar lá em casa. Claro que fiquei muito nervoso, sempre fico quando descubro que vou receber visitas. Na verdade, tenho muito medo de ser anfitrião de qualquer coisa nessa vida, porque ser anfitrião é uma responsabilidade enorme, não é mesmo? Ver todos felizes, dar atenção a todos os convidados, fazer todos participarem ao mesmo tempo da mesma conversa... É muito difícil! Principalmente pra mim, que quase não converso.
Mas eles chegaram. Levantei do sofá e abracei cada um. Tia Lena, como de costume, foi a mais carinhosa. Ela demora mais ou menos uns dois minutos pra me abraçar, me dar a sua bênção e me dizer um monte de coisa boa que você nem imagina! Gosto muito da tia Lena! Na verdade, eu amo a tia Lena. E, justamente por isso, nunca sei como me comportar na frente dela, fico muito sem graça. O Daniel eu não conhecia, mas ele me conhecia. Achei isso fantástico! “Então você é o famoso Rafael Soal, dono dos posts mais legais do Facebook!” Fiquei até vermelho quando ele disse isso, mas não posso negar que gostei. É muito bom ouvir isso da coisa que você mais gosta de fazer na vida. Sinal de que estou no caminho certo, talvez.
Todo mundo se sentou na sala: mamãe, papai, minha irmã Letícia, Celina, Angélica, Daniel, tia Lena, meu cachorro Cauã e meu jabuti Slow. Eu estava conseguindo controlar minha ansiedade muito bem, até que a Lorena me chama no WhatsApp. Ela e eu estamos vivendo um momento difícil. Estamos presos ao nosso último relacionamento, mesmo sabendo que, provavelmente, tudo já tenha morrido faz tempo. Mas nós dois ainda amamos nossos ex-. E isso é tão difícil...
O fato é que ela me chamou no WhatsApp pra me mostrar uma resposta de um professor nosso da faculdade. Eu a encorajei a perguntar pra ele o que ele achava do relacionamento falido dela. Sempre gostei muito das opiniões e observações do Edmundo. Ele é tido como louco por todo mundo, mas sabe quando é uma loucura com uma grande verdade escondida? Pois é. E Lorena criou coragem e perguntou a ele. Disse que tinha mandando por e-mail a resposta pra eu ler. Abri imediatamente a caixa de entrada e lá estava. Comecei a ler e, no começo, nada de anormal. É o que eu sempre dizia a ela e a mim mesmo, mas... santo de casa nunca fez milagre. Mas a terceira parte da resposta do Edmundo me incomodou demais. Vou reproduzir aqui pra você entender do que estou falando:
3. Preservar-se, não fazendo coisas das quais vamos nos arrepender em breve. Fora isso, meu avô dizia que, quando a gente tem um problema, é preciso avaliar se ele vai durar mais ou menos de 6 meses. Se durar mais, pode se preocupar. Se durar menos, esqueça imediatamente. Na verdade, a maioria dos problemas que "arrumamos" não duram muito tempo. Uma semana e você nem se lembra mais da coisa.
Espero ter ajudado. Beijoca.
Pra falar a verdade, eu fiquei muito mal depois que terminei de ler. Porque o que eu e Lorena sofríamos era amor. E como a gente pode colocar o amor dentro da estante de “problemas”? Amor deveria solução, não problema. É bom sentir amor, mesmo que ele venha com uma dosezinha de dor. E o que me doeu também foi que meu namoro já tinha acabado há uns oito ou nove meses, já. E eu demorei muito pra sentir a dor e a falta que a Anne me faz. Pela lógica do professor Edmundo, já tinham se passado os seis meses. Meu sentimento, então, não era qualquer coisa. Era uma coisa a se preocupar, e bastante! Será que deveria criar coragem e escrever pra Anne dizendo que eu ainda a amo? Ou continuar em silêncio até tudo isso passar? Eu sempre achei que não tenho o direito de escrever nada pra ela. O relacionamento acabou por bobagens que eu mesmo criei sozinho. Ela não tem culpa de nada. O idiota fui eu, apenas eu. E aí eu lembrei que eu não pude escrever “Feliz Natal!” pra ela e nem “Feliz Ano Novo!”, apesar de ter sido a coisa que eu mais quis escrever no fim de ano. Mas a culpa era toda minha por não poder escrever. E isso me doía demais, me angustiava. Eu me senti uma pessoa muito ruim, um verdadeiro monstro.
Pensei tudo isso sentado na porta da sala e com todo mundo a minha volta. Eu emudeci imediatamente e meus olhos começaram a marejar. Nem tive coragem de responder pra Lorena o que eu pensava, porque se eu respondesse tinha certeza que ia começar a chorar. Então fiquei ali o tempo todo engolindo choro e tentando rir da melhor maneira possível pra ninguém perceber.
Depois de uns 20 minutos, mamãe chamou todo mundo pra sala de jantar para beliscarem alguma coisa. Eu fiquei no meu lugar, quieto, esperando todos se levantarem. Quando todos já estavam a caminho, tia Lena tomou a direção inversa e veio até mim. Me olhou com uma serenidade gigante e disse:
- Seus olhos estão brilhando já tem um tempinho...
- Não é nada, tia, tá tudo bem. É que eu tive um probleminha no olho em novembro, mas já tá quase ficando bom.
Foi quando tia Lena ergueu os dois braços, passou-os por trás do meu cabelo e me puxou pra perto dela. Me abraçou bem forte contra seu peito e disse:
- Eu só quero que você saiba que você é uma pessoa muito boa, que você é um menino muito especial e que eu te amo muito! – me soltou, sorriu contente e foi em direção à sala de jantar.
Você não faz ideia da força que eu fiz pra não chorar no colo da tia Lena. Poxa vida, como foi difícil! Inacreditável como em apenas uma frase ela conseguiu dizer de todo meu sofrimento. É como se ela tivesse lido meus pensamentos!
Depois dessa emoção toda, eu me lembrei de uma frase do livro que eu estava lendo na época (e que sempre paro, porque ele me emociona muito): “As Vantagens de Ser Invisível”.
- Ele é invisível.
- Você vê as coisas. Você guarda silêncio sobre elas. E você compreende.
E fiquei olhando tia Lena da porta da sala. Eu estava numa sala com tanta gente! Papai não percebeu nada, mamãe não percebeu nada. Nem Letícia, nem Celina. Tampouco Angélica e Daniel. Cauã e Slow são animais, não tinham como perceber. Mas tia Lena percebeu. Sentadinha no seu canto, caladinha, ela foi capaz de perceber que alguma coisa tinha acontecido comigo a ponto de fazer meus olhos “brilharem”. Eu sempre me achei “invisível”. Sempre achei. Mas achava estranho porque não conseguia enxergar de quem eu tinha puxado esse jeito matuto. Naquele momento, mesmo triste por ter me lembrado da Anne, eu me senti menos sozinho. Afinal, minha família tinha mais um membro invisível: a tia Lena! Então eu sorri por dentro.
Como deve ser calmo e sábio o mundo enxergado pelos nossos parentes com 70 ou 80 e poucos anos, não é mesmo? Como eles devem viver em paz, sem tantas preocupações arrebatadoras, sem tantos hormônios à flor da pele, sem tanta ansiedade... Pensando bem, meu amigo, eu devia ter perguntado pra tia Lena se eu devo ou não escrever pra Anne. Ela com certeza teria uma resposta doce e muito serena pra me dar.
Como é bom ser mais velho! Aproveito pra te confessar que esse é um dos meus grandes sonhos. Ficar mais velho! Deve ser tão bom... Desde os 18 anos eu sonho com isso. Ai, ai... Mal posso esperar pelos meus 30.
Com amor,
Rafael

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