Desde pequeno, Marcelo tinha uma paixão inexplicável por embalagens plásticas. Saquinhos de bombom, pacotes de biscoito, até mesmo as sacolas que a empregada trazia do supermercado. Para o garoto, o plástico que envolvia o produto era muito mais importante e especial que o que vinha dentro. E como ficava furioso quando via uma pessoa jogar um pacotinho no lixo! "Que cara insensível!" - dizia. "Como pode abandonar ao relento um pacotinho tão bem feito, tão colorido, tão bem ilustrado, que tem tanta coisa para dizer!"
E foi assim. Aos oito anos, decidiu começar a sua coleção de embalagens. Aos dez, já era dono de mil pacotinhos diferentes. Aos 12, definiu sua meta de vida: ser dono de uma empresa que fabrica embalagens. Aos 15, passou a desprezar a familia. Aos 16, saiu de casa dizendo que não podia ser filho de pessoas tão sem ambição como seus pais. Aos 17, sua coleção contava com mais de dez mil peças diferentes! Aos 18, entrou na faculdade. Aos 21, montou sua tão sonhada empresa. Aos 22, se casou. Aos 23, se formou Designer de Produtos. Aos 24, sua empresa já era líder do ramo. Aos 25, contratou onze profissionais para ajuda-lo na criação. Aos 26, demitiu por e-mail nove desses funcionários. Aos 27, recebeu um telefonema de sua esposa, dizendo que seu filho acabara de nascer. Aos 30, comemorou o terceiro aniversário do garoto, o primeiro a seu lado. Aos 33, mandou a mulher embora de casa junto com o primogênito, pois os dois estavam atrapalhando seu plano de ser o maior empresário do mundo. Aos 35, recebeu a tão sonhada honraria das mãos do representante máximo do seu pais. Aos 37, entregou seu fiho para sua prima criar, a ex-mulher havia morrido de desgosto. Aos 39, mandou comprar flores ao saber do falecimento do pai. Aos 40 anos, ganhou sua primeira biografia não-autorizada, feita por um escritor fascinado pelo comportamento humano. O nome da obra: "A arte de transformar sacos plásticos em pessoas e pessoas em sacos plásticos". No dia de seu aniversário de 41 anos, Marcelo recebeu de presente da mãe esse mesmo livro, junto com um cartão com esses dizeres: "Porque as pessoas nunca foram descartáveis, meu filho. Felicidades!" Curioso, Marcelo desembrulhou o belo pacote, e, percebendo o que era, lançou logo seus olhos na capa, depois no título, e ali os deixou por um tempo. Por fim, suspirou, disse em voz alta um "Obrigado, mamãe!", jogou o livro na lixeira e fez do belo pacote o mais novo item de sua fantástica coleção de embalagens.
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