Do 8 aos 80

Ele odeia os anos 80. Do fundo do coração.

Para ele, não passa de uma década de jovens perdidos, com ambições que mais pareciam utopias. Jovens que queriam ser livres, mas que na verdade alimentavam sem ver a máquina que tanto abominavam.

Ele odeia a música dos nos 80. Do fundo da alma.

Os seus ouvidos não conseguem entender como os produtores e técnicos de gravação foram capazes de captar baterias tão ruins, com um som que parece sair de uma caverna habitada por dinossauros. Ele odeia sintetizdores, baixos crus, guitarras limpas.

Mas no seu iPod estão uma porção de dez músicas daquela época. Depeche Mode, a-ha, Pet Shop Boys. Elas nunca são escutadas. A não ser nas sextas e sábados a noite.

Para um cara que ouviu "Wonderwall" pela primeira vez em 2003 e "Last Nite" debutou no seu som em 2007, os anos 80 ganham um sentido todo estranho e especial nessas duas madrugadas. Músicas que são por ele detestadas, causam um estranhamento tão único, uma dor tremenda, que não é marcada pela tristeza, mas pela saudade do que nunca viveu, por uma boca que não beijou, por um modelito espalhafatoso que não usou, por uma rua onde não andou bêbado e nem aos berros. Os anos 80 o chamam a viver a vida, intensamente e sem pecados. Os anos 80 o chamam para a noite. E aí sim, a vontde de ser o louco que sempre quis e hoje já sumiu de seus anseios vem com força total. Ele tem vontade de dançar sobre luzes que se acendem e apagam de meio em meio segundo, de ser um rock star, ou então um desconhecido qualquer no meio de uma boate pegando fogo. Saudade de alguém que nunca viu, nunca conversou, nunca conheceu, mais hora ou outra perambula no seu imaginário...

Algo inexplicável...

Talvez ele odeie os anos 80 porque ele representa tudo o que ele quis ou quer ser. Talvez porque suas atitudes sejam mais gêmeas às dos joevns daquela época. Talvez porque a utopia que segue nunca conseguirá ser realizada na realidade em que foi gerado. Talvez porque sua voz fosse mais ouvida e mais aceita na década que os jovens encontravam na loucura e na diferença a chave para serem felizes...

Essa sexta-feira não está nem um pouco diferente... Ele espera a casa toda dormir, as luzes todas se apagarem, para ouvir "Enjoy the Silence" de pé, no escuro. E os olhos fechados dão conta da iluminação, da fumaça que paira pelos pés, das pessoas fumando, rindo e dançando ao seu redor. Da louca que vai lhe pedir fogo, pegar na sua mão, joga-lo na pista, arrancar-lhe um beijo e fazer daquele momento uma bela noite de amor, sonhos e fantasias.

Porque eles dois são jovens. Estão nos anos 80. E podem tudo.

Tudo.