Capítuo 19 - O Céu Pode Se Abrir

Depois de uma noite difícil, banhada por lágrimas e açúcares que fazem qualquer garota tremer de medo, June levanta da cama e vai ao banheiro. Mas que cara inchada, que olhos mórbidos, que pele horrível! E faltam 20 minutos para chegar ao trabalho. O que fazer? Não resta outra alternativa, a não ser... tomar mais dois calmantes.

A menos de 12 horas atrás, o que ela achava que ia acontecer finalmente... aconteceu. Mas da forma mais improvável, sacana e humilhante possível. O atual amor da sua vida tinha terminou com ela. Por e-mail! E sabe para quê? Para ir sozinho ao show da maior banda do mundo, lá no Rio. A tecnologia é uma desgraça... É para isso que ela evoluiu tanto? Para um romance terminar por e-mail?

Depois de arrumar o possível de sua aparência em 10 minutos, pegou o ônibus (totalmente lotado!), e chegou na loja. Como queria estar em casa e não trabalhar! Tomara que algum dia um político romântico crie uma lei onde todo trabalhador que tenha terminado um namoro ganhe o outro dia de folga para não precisar mentir que está apertado e ir ao banheiro de meia em meia hora.

Mas, mais improvável que terminar um namoro por e-mail, é o acaso.

Na hora do almoço, June resolve não comer nada, só beber, para afogar as mágoas. "Hummmm, deixa eu ver... Me dá uma Coca por favor!" Quando estava tirando o dinheiro para pagar a conta, a pessoa de trás cutuca seu ombro.

Quando ela olha, quase solta um berro! Uma figura muito estranha, toda coberta por roupas espalhafatosas, óculos Ray Ban, barba e cabelo comprido, está sorrindo. Será um mendigo? Mas sua pergunta foi logo respondida com um português arranhado.

- Por favor, você poderia me ajudar? Onde fica a rodoviária?

Como assim? Quem era esse cara? Ele estava no shopping mais caro da cidade, e queria saber onde era a rodoviária? Mas peraí, tem algo estranho...

- Ela fica um pouco longe mas eu te ensino onde é!

June levou o sujeito "dingão" para fora e mostrou onde era. Mas ele não desviava a atenção dela em momento algum... Estava começando a ficar com medo. Mas ainda tinha algo estranho...

- Você chorou na noite passada? - pergunta o cara.

- Como?

- Não acredito que exista algo ou alguém nesse mundo que tenha coragem de fazê-la chorar.

E num passe de mágica, o Ray Ban subiu para a testa e a Coca desceu para o chão. Inacreditável! Era o baterista da maior banda do mundo, que o cretino do seu (ex-) namorado foi ver! Mas o que era aquilo? Deus brincando de ser bom?

Depois do susto e das explicações do por que estava ali, e não no Rio, do por que do disfarce, do por que do choro, do por que de tudo, veio uma longa e divertida conversa. Depois veio uma longa e hipnótica troca de olhares. Depois, um longo e delicioso beijo. Depois, a noite, veio o show. E June assistiu pela televisão.

E a Internet, que outrora ajudou a destruir o romance de June com o (ex-) namorado, foi o que a uniu ao novo amor de sua vida. O baterista e ela conversavam todos os dias, até de madrugada. E ele, sempre que podia, dava uma escapadinha e vinha ao Brasil. E a vida tomou seu curso.

O final da história? A maior banda do mundo deu uma pausa de um ano, e o baterista montou um grupo paralelo para se divertir nesse tempo.

E June, onde entra nesse final?

Ela se tornou a vocal feminina da banda paralela do baterista da maior banda do mundo, que lhe pediu em namoro. E a banda paralela logo se tornou a segunda maior banda do mundo. E June excursionou pelo planeta, aprendeu a tocar violão e percursão, deu entrevista para o David Letterman, conheceu as maiores bandas do planeta, seus ídolos de infância, e se casou com o baterista, o primeiro homem de sua vida.

E enquanto você lê esse texto, June está fazendo seu primeiro show no Brasil, e será assistida pelo (ex-) maior amor de sua vida, que terminou com ela pela Internet. E amanhã a tarde, ela vai lançar uma pequena biografia dos seus 21 anos de vida. E essa história está lá, devidamente registrada, no maior capítulo do livro de 216 páginas, embaixo do título "O Céu Pode Se Abrir".