sábado, 5 de dezembro de 2009

Sobre amizade, amor e traição na crise de meia idade

O homem barbudo entra no bar, com seu corpanzil todo sujo da lama que as escadas do seu sustento traziam de uma chuva no norte do estado. Cansado, desabou na cadeira do balcão, e pediu uma cerveja gelada.
- Eu não traio minha mulher! Nunca trai. Minha mulher tem tudo que preciso!
- Eu já dei uma pulada de cerca. Meu casamento quando entra em crise, fico sem sexo e sem cama! É melhor dormir na cama da amante que no sofá, não é não?
O homem sujo e enorme então se interessou pela conversa, e começou a escuta-la de longe, coçando a barba e bedendo sua loira. Mais uma, e uma, e outra. Uma pinga para esquenatar a garganta antes de ir. Quando a bebida cumpriu sua sina, o caminhoneiro resolveu dar seu testemunho aos dois homens da mesa.
- Aqui, vocês! Eu sou caminhoneiro, tenho espoa e quatro filhos. Passo vinte dias do mês viajando por esse Brasil pra dar uma vida melhor pra eles. Não faço isso porque gosto não! Se me derem um vaga num escritório, troco na hora. Passar vinte dias sozinho, sem o calor de uma morena, é difícil, não nego. E quando a tentação vem roçar sua pele na minha nuca, eu não perdôo não! Já deixei marcas nessas minhas andanças. Mas quando arrumo uma graninha extra, ligo pra minha dona, juro meu amor, e depoisto o dinheiro para o arroz da meninada. O meu corpo pode ser do diabo, que seja! Mas meu coração é dela. Só dela! Com as outras eu faço sexo. Mas só com minha mulher eu faço amor! E vocês, são machos o suficiente para dizerem na minha cara que eu traio minha mulher? Enquanto acharem que amor e sexo são a mesma coisa, vão ficar aí se embebedando de bar em bar e nunca vão saber o que é amar de verdade!
- Mas Deus disse que não devemos cobiçar a muher do próximo! Você não tem medo de ir pro Inferno não?
- Isso é desculpa que cria pra você mesmo continuar se engraçando pelas estradas, isso sim!
- Ah, é? Ótimo! Então vou contar uma história que vocês vão mudar de opinião na hora, quer ver?
E assim começou uma conversa sobre amor, uma briga de bar, uma testa cortada, e uma amizade eterna entre três homens de uns quarenta e poucos anos.

Rafael Soal.

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