Ah, o algodão doce! Se pararmos para pensar, o algodão doce não é um doce qualquer. Para mim, é o doce mais singelo, puro, gostoso e cheio de significados que existe.
Não importa a idade, sempre que você comer um algodão doce, vai entrar em uma máquina do tempo e viajar direto para sua infância. Sabe por quê? Porque quando você compra um algodão doce, e tem todo um carinho em escolher a sua cor favorita, em desembrulhar o saquinho, em prová-lo e senti-lo derreter na sua boca sem mover um músculo sequer, pode ter certeza que foi a criança que ainda pulsa dentro de você participou de tudo isso.
Ah, o algodão doce! Um pequeno pedaço de nuvem que caiu lá do céu e que aqui na Terra recebe várias cores. O azul, o amarelo, o rosa. Quando eu como um algodão doce é como se estivesse mesmo no céu. Todos os problemas, contas, doenças, lamurias, tudo mesmo, desaparece como num passe de mágica.
Comer algodão doce traz uma paz! Se eu fosse médico, toda receita que eu prescrevesse teria algodão doce. “Olha minha senhora, tome esse xarope de oito em oito horas e coma um algodão doce pelo menos uma vez ao dia. A senhora vai ficar boa em um pulo!”
E o caso de amor do algodão doce e o casal de namorados? Os dois juntinhos na praça, domingo de tarde, comentando sobre a semana de trabalho, contando casos, espiando as pessoas ao redor, trocando juras de amor. Acho que esse casamento, com o perdão do trocadilho, é indissolúvel. Sabe, algodão doce é também símbolo do amor e da paixão.
Há poucos meses atrás, conversando com um primo muito doente, ele me disse o seguinte: “Sabe de uma coisa? Eu vou melhorar em breve, vou sim. E vou mudar minha vida. Vou voltar para Curvelo, comprar uma máquina de fazer algodão doce e vou rachar de ganhar dinheiro! Você vai ver só!”
Embora soubesse que sua doença tinha uma absolvição quase impossível, por um momento eu acreditei nessa cura. Seus olhos brilhavam ao dizer aquelas palavras. A sua busca pela vida, embora essa mesma vida o tivesse maltratado por demais, era digna de aplauso. Naquele instante, o primo que eu demorei demais para trocar palavras amigas, me conquistou de uma só vez. E ganhou um eterno admirador.
Aquela foi a última vez que eu o vi. Confesso com um pouco de remorso não tê-lo acompanhado em seus momentos mais difíceis. Por outro lado, me sinto por demais feliz, porque a última imagem que levo dele dentro de mim é de um guerreiro bravo e sonhador, que amava acordar todas as manhãs, vestir sua armadura, e voltar para a batalha pela vida.
Mas, de quando em vez, sempre me vem à cabeça uma dúvida cruel: por que raios ganhar dinheiro com algodão doce? Por que não algo maior? Um boteco, uma mercearia? Será que além de ganhar dinheiro, meu primo queria provocar sorrisos, sensações, sentimentos? Será que na verdade o que ele queria mesmo era distribuir alegria? Será que ele queria libertar todas as crianças interiores do mundo e assim ver um mundo melhor?
Confesso que não sei. E nunca vou saber. Mas graças ao meu primo, de agora em diante, algodão doce para mim tem mais dois significados: algodão doce é esperança. Algodão doce é fé!
Para Marcelo de Souza Oliveira, com todo algodão doce do mundo!
2 comentários:
Esse texto é lindo e que derrete nos nossos olhos sem nenhum esforço, assim como o algodão doce derrete na boca...
E seu primo, nem precisou comprar uma máquina de algodão doce, pois ele está dando forma aos que existem lá em cima, arrancando risos de crianças imaginando o que seria a forma e a admiração de quem vê...
Beijos com todo o algodão doce do mundo!
Não gosto de algodão doce. Mas ficou muito muito bom!
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